Os betabloqueadores são uma classe de fármacos que promovem ação anti-hipertensiva, usados no tratamento de hipertensão arterial e insuficiência cardíaca. O mecanismo de ação e os efeitos adversos desses medicamentos diferem de acordo com sua seletividade quanto aos receptores beta-adrenérgicos, e é a partir desses receptores que todo o estudo sobre betabloqueadores ocorre.
Considerando a importância desses fármacos, hoje iremos discutir aspectos relevantes sobre eles, como: definição, usos e classificações.
- Introdução
- Mecanismo de ação dos betabloqueadores
- Seletividade dos betabloqueadores
- Classificação e usos clínicos dos betabloqueadores
- Efeitos adversos dos betabloqueadores
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é o principal fator de risco para o desenvolvimento de diversas alterações cardíacas, como insuficiência cardíaca (IC), doença arterial coronariana e fibrilação atrial. Muitos pacientes com HAS possuem risco de desenvolver IC.
Esta correlação é relevante considerando-se a alta prevalência da HAS em pessoas maiores de 65 anos no Brasil, o que destaca a importância para o uso de betabloqueadores no tratamento da HAS e de comorbidades cardíacas.
Os betabloqueadores são a quarta opção de tratamento da HAS, sendo mais usados em casos de hipertensão resistente ou quando há uma doença coronária associada (a Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial de 2020-2021 indica que esses fármacos devem ser usados no tratamento da HAS quando há indicação específica).
A escolha do melhor betabloqueador depende de cada paciente e diagnóstico, sendo também considerados os efeitos adversos e mecanismos de ação do fármaco.
Mecanismo de ação dos betabloqueadores
Os betabloqueadores agem por meio do bloqueio dos receptores alvo β1 (presentes no coração) e β2 (presentes nos rins e pulmões), inibindo assim suas ações no tecido. Esse bloqueio é competitivo e reversível e, quando ocorre, há a diminuição das respostas cronotrópicas (relacionadas à frequência cardíaca), inotrópicas (relacionadas à contratilidade do músculo cardíaco) e vasodilatadoras.
Logo, os betabloqueadores reduzem a pressão arterial primariamente diminuindo o débito cardíaco. Entretanto, eles também podem agir no sistema renina-angiotensina-aldosterona e inibir a liberação de renina dos rins, reduzindo, assim, a formação de angiotensina II e a secreção de aldosterona, o que reduz a volemia e, consequentemente, a pressão arterial.
Seletividade dos betabloqueadores
Existem 3 subtipos de receptores beta-adrenérgicos (β1, β2 e β3) que diferem entre si em localização e ação. Apenas os receptores β1 e β2 são alvos dos betabloqueadores, e por isso iremos estudá-los:
Os receptores β1 são encontrados principalmente no miocárdio e possuem as seguintes ações:
- Aumento do débito cardíaco por meio da elevação da frequência dos batimentos e o volume de ejeção;
- Liberação de renina nas células justaglomerulares.
Já os receptores β2 podem ser encontrados no músculo liso (pulmões, vasos sanguíneos e outros órgãos), possuindo ações como:
- Relaxamento da musculatura lisa dos brônquios;
- Dilatação das artérias do músculo esquelético;
- Aumento da secreção de renina pelos rins;
- Lipólise do tecido adiposo.
A ação dos fármacos betabloqueadores se dá mediante bloqueio dos receptores β1 e β2, e é a partir disso que podemos classificar esses fármacos em dois grandes grupos: bloqueadores seletivos (seletivos para receptores β1) e não seletivos (bloqueiam tanto receptores β1 quanto β2).
Uma observação: além dessas duas classificações mais importantes, ainda existem os betabloqueadores que atuam bloqueando os receptores α1 e os que produzem óxido nítrico (falaremos mais à frente sobre eles).
Classificação e usos clínicos dos betabloqueadores
a) Betabloqueadores seletivos β1 (ou cardiosseletivos)
Devido à cardiosseletividade por receptores β1, essa subclasse é útil no tratamento de pacientes hipertensos que também apresentam asma e doença vascular periférica (doenças que podem ser agravadas pela inibição dos receptores β2). Mesmo assim, a administração em pacientes asmáticos deve ser com cautela.
Representantes: metoprolol e atenolol.
b) Betabloqueadores não seletivos
Não possuem seletividade para nenhum dos dois receptores. Esses fármacos são contraindicados a pacientes com asma devido ao bloqueio da broncodilatação mediada por receptores β2.
Representantes: propranolol e nadolol.
c) Outros
Como mencionado, além desses dois grandes grupos mais importantes, existem betabloqueadores que agem tanto como betabloqueadores como vasodilatadores. O principal exemplo é o carvedilol, que é útil no tratamento de hipertensos com insuficiência cardíaca.
Outra exceção é o nebivolol, que exerce sua ação por meio do seu efeito vasodilatador, que pode decorrer do aumento da liberação endotelial de óxido nítrico. O nebivolol tem eficácia semelhante à de outros anti-hipertensivos.
OBS1: Na insuficiência cardíaca, nos casos em que há fração de ejeção reduzida, prioriza-se o uso do metoprolol e do carvedilol.
OBS2: Na HAS, os betabloqueadores somente são considerados para monoterapia inicial quando há eventos cardíacos envolvidos, como é o caso de pós-infarto agudo do miocárdio, angina do peito, IC com fração de ejeção reduzida e controle da frequência cardíaca.
Efeitos adversos dos betabloqueadores
As reações adversas dos betabloqueadores estão relacionadas a sua especificidade pelo subtipo do receptor.
Os betabloqueadores não seletivos, embora bem tolerados, são ainda responsáveis por causar broncoespasmo, bradicardia, distúrbio da condução atrioventricular, vasoconstrição periférica, insônia, astenia e disfunção sexual. É importante destacar novamente que eles são contraindicados para pacientes asmáticos e com doença pulmonar obstrutiva crônica.
Os betabloqueadores cardiosseletivos apresentam menores efeitos adversos no músculo liso e nos pulmões, mas ainda podem causar hipotensão, bradicardia, insônia e fadiga.
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Referências
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