Betabloqueadores: O que são? Para que servem? Quais as Indicações? Guia definitivo dos Betabloqueadores

Nesse artigo, iremos explicar sobre a classe de anti-hipertensivos betabloqueadores, seu mecanismo e usos clínicos!

Por Giuliana Sorrochi Marino
1 min
Imagem ilustrativa sobre os anti-hipertensivos betabloqueadores

Os betabloqueadores são uma classe de fármacos que promovem ação anti-hipertensiva, usados no tratamento de hipertensão arterial e insuficiência cardíaca. O mecanismo de ação e os efeitos adversos desses medicamentos diferem de acordo com sua seletividade quanto aos receptores beta-adrenérgicos, e é a partir desses receptores que todo o estudo sobre betabloqueadores ocorre.

Considerando a importância desses fármacos, hoje iremos discutir aspectos relevantes sobre eles, como: definição, usos e classificações.

  1. Introdução
  2. Mecanismo de ação dos betabloqueadores
  3. Seletividade dos betabloqueadores
  4. Classificação e usos clínicos dos betabloqueadores
  5. Efeitos adversos dos betabloqueadores

 

Introdução

A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é o principal fator de risco para o desenvolvimento de diversas alterações cardíacas, como insuficiência cardíaca (IC), doença arterial coronariana e fibrilação atrial. Muitos pacientes com HAS possuem risco de desenvolver IC.

Esta correlação é relevante considerando-se a alta prevalência da HAS em pessoas maiores de 65 anos no Brasil, o que destaca a importância para o uso de betabloqueadores no tratamento da HAS e de comorbidades cardíacas.

Os betabloqueadores são a quarta opção de tratamento da HAS, sendo mais usados em casos de hipertensão resistente ou quando há uma doença coronária associada (a Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial de 2020-2021 indica que esses fármacos devem ser usados no tratamento da HAS quando há indicação específica).

A escolha do melhor betabloqueador depende de cada paciente e diagnóstico, sendo também considerados os efeitos adversos e mecanismos de ação do fármaco.

 

Mecanismo de ação dos betabloqueadores

Os betabloqueadores agem por meio do bloqueio dos receptores alvo β1 (presentes no coração) e β2 (presentes nos rins e pulmões), inibindo assim suas ações no tecido. Esse bloqueio é competitivo e reversível e, quando ocorre, há a diminuição das respostas cronotrópicas (relacionadas à frequência cardíaca), inotrópicas (relacionadas à contratilidade do músculo cardíaco) e vasodilatadoras.

Logo, os betabloqueadores reduzem a pressão arterial primariamente diminuindo o débito cardíaco. Entretanto, eles também podem agir no sistema renina-angiotensina-aldosterona e inibir a liberação de renina dos rins, reduzindo, assim, a formação de angiotensina II e a secreção de aldosterona, o que reduz a volemia e, consequentemente, a pressão arterial.

 

Seletividade dos betabloqueadores

Existem 3 subtipos de receptores beta-adrenérgicos (β1, β2 e β3) que diferem entre si em localização e ação. Apenas os receptores β1 e β2 são alvos dos betabloqueadores, e por isso iremos estudá-los:

Os receptores β1 são encontrados principalmente no miocárdio e possuem as seguintes ações:

  • Aumento do débito cardíaco por meio da elevação da frequência dos batimentos e o volume de ejeção;
  • Liberação de renina nas células justaglomerulares.

Já os receptores β2 podem ser encontrados no músculo liso (pulmões, vasos sanguíneos e outros órgãos), possuindo ações como:

  • Relaxamento da musculatura lisa dos brônquios;
  • Dilatação das artérias do músculo esquelético;
  • Aumento da secreção de renina pelos rins;
  • Lipólise do tecido adiposo.

A ação dos fármacos betabloqueadores se dá mediante bloqueio dos receptores β1 e β2, e é a partir disso que podemos classificar esses fármacos em dois grandes grupos: bloqueadores seletivos (seletivos para receptores β1) e não seletivos (bloqueiam tanto receptores β1 quanto β2).

Uma observação: além dessas duas classificações mais importantes, ainda existem os betabloqueadores que atuam bloqueando os receptores α1 e os que produzem óxido nítrico (falaremos mais à frente sobre eles). 

 

Classificação e usos clínicos dos betabloqueadores

a) Betabloqueadores seletivos β1 (ou cardiosseletivos)

Devido à cardiosseletividade por receptores β1, essa subclasse é útil no tratamento de pacientes hipertensos que também apresentam asma e doença vascular periférica (doenças que podem ser agravadas pela inibição dos receptores β2). Mesmo assim, a administração em pacientes asmáticos deve ser com cautela.

Representantes: metoprolol e atenolol.

 

b) Betabloqueadores não seletivos

Não possuem seletividade para nenhum dos dois receptores. Esses fármacos são contraindicados a pacientes com asma devido ao bloqueio da broncodilatação mediada por receptores β2.

Representantes: propranolol e nadolol.

 

c) Outros 

Como mencionado, além desses dois grandes grupos mais importantes, existem betabloqueadores que agem tanto como betabloqueadores como vasodilatadores. O principal exemplo é o carvedilol, que é útil no tratamento de hipertensos com insuficiência cardíaca.

Outra exceção é o nebivolol, que exerce sua ação por meio do seu efeito vasodilatador, que pode decorrer do aumento da liberação endotelial de óxido nítrico. O nebivolol tem eficácia semelhante à de outros anti-hipertensivos.

OBS1: Na insuficiência cardíaca, nos casos em que há fração de ejeção reduzida, prioriza-se o uso do metoprolol e do carvedilol.

OBS2: Na HAS, os betabloqueadores somente são considerados para monoterapia inicial quando há eventos cardíacos envolvidos, como é o caso de pós-infarto agudo do miocárdio, angina do peito, IC com fração de ejeção reduzida e controle da frequência cardíaca.

 

Efeitos adversos dos betabloqueadores

As reações adversas dos betabloqueadores estão relacionadas a sua especificidade pelo subtipo do receptor.

Os betabloqueadores não seletivos, embora bem tolerados, são ainda responsáveis por causar broncoespasmo, bradicardia, distúrbio da condução atrioventricular, vasoconstrição periférica, insônia, astenia e disfunção sexual. É importante destacar novamente que eles são contraindicados para pacientes asmáticos e com doença pulmonar obstrutiva crônica.

Os betabloqueadores cardiosseletivos apresentam menores efeitos adversos no músculo liso e nos pulmões, mas ainda podem causar hipotensão, bradicardia, insônia e fadiga.

 

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Referências

  1. MIRANDA RD, SEPULVIDA MB, ALMONFREY FB. No cenário atual, qual o papel dos betabloqueadores no tratamento da hipertensão? Rev. Bras. Hipertens. 2020; Vol. 27(3):B5-91 [internet]. Citado em: 09 de outubro de 2022. Disponível em: No cenário atual, qual o papel dos betabloqueadores no tratamento da hipertensão?
  2. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica e Aguda. Arq. Bras. Cardiol. 2018; 111(3):436-539. [Internet]. Citado em: 09 de outubro de 2022. Disponível em: Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica e Aguda
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  5. CONSOLIM-COLOMBO FM, BORTOLOTTO LA. Betabloqueadores adrenérgicos. Rev Bras Hipertens vol.16(4):215-220,2009. [internet].  Citado em: 09 de outubro de 2022. Disponível em:  Betabloqueadores adrenérgicos
  6. WHALEN, K. Farmacologia Ilustrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.

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