A depressão é uma doença psiquiátrica que apresenta como principais sintomas a sensação de tristeza, desesperança, incapacidade de sentir prazer em atividades usuais e alterações fisiológicas como variações no sono, no apetite, entre outros.
O farmacêutico tem um papel importante na orientação e acompanhamento do paciente com depressão. Por isso, é essencial entender o que são os antidepressivos e seu uso clínico.
Veja abaixo os principais temas que serão abordados neste artigo:
- Definição dos antidepressivos
- Mecanismo de ação
- Classificações e uso clínico
- Uso racional de antidepressivos e papel do farmacêutico
São fármacos usados no tratamento da depressão. Entretanto, não podemos ficar apenas nessa definição simplista, pois os antidepressivos também são usados no tratamento de várias outras condições clínicas, como: mania (o oposto da depressão, caracterizada por entusiasmo, raiva, pensamentos e fala rápidos, extrema autoconfiança), ansiedade, distúrbios do sono, dores crônicas e impotência sexual.
Cada classe de antidepressivos trabalha de uma forma e iremos falar de cada uma separadamente. Entretanto, podemos ressaltar um mecanismo em comum nessa classe, que é a potencialização, direta ou indiretamente, das ações da norepinefrina e/ou da serotonina (5-HT) no cérebro.
A serotonina e a norepinefrina são neurotransmissores importantes na produção de prazer e alegria no organismo, e por isso a sua deficiência pode levar à depressão e outros distúrbios psicológicos.
a) Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS)
São fármacos que inibem especificamente a captação da serotonina e apresentam uma seletividade de 300 a 3.000 vezes maior para a serotonina do que para a norepinefrina. Os ISRS apresentam menos efeitos adversos se comparados com os antidepressivos tricíclicos (ADT) e inibidores da monoaminoxidase (IMAOs) – classes que iremos tratar posteriormente – e, por isso, são fármacos de escolha no tratamento da depressão.
Representantes: fluoxetina, citalopram, escitalopram, fluvoxamina, paroxetina e sertralina.
OBS: O escitalopram é o S-enantiômero puro do citalopram.
b) Inibidores da Recaptação de Serotonina e Noradrenalina (IRSN)
São fármacos que inibem tanto a recaptação de serotonina quanto de noradrenalina e são usados no tratamento de depressão em pacientes nos quais os ISRSs foram ineficazes. Possuem menores efeitos nos receptores adrenérgicos e muscarínicos se comparados com os antidepressivos tricíclicos (comentados no item d).
Representantes: venlafaxina, desvenlafaxina e duloxetina.
c) Antidepressivos atípicos
É um grupo amplo de fármacos que apresentam atividades variadas e mecanismos diferentes entre si.
Representantes: bupropiona, mirtazapina, nefazodona, trazodona e vortioxetina.
d) Antidepressivos tricíclicos (ADT)
São fármacos que atuam inibindo a recaptação de serotonina e noradrenalina, assim como os IRSNs, porém diferem desses pois causam o bloqueio de receptores muscarínicos, levando a efeitos adversos como xerostomia, visão turva, retenção urinária, constipação, entre outros.
Representantes: imipramina, amitriptilina, clomipramina e nortriptilina.
e) Inibidores da monoaminoxidase (IMAO)
Os fármacos IMAO inativam de forma reversível ou irreversível a enzima monoaminoxidase. A monoaminoxidase (MAO) inativa o excesso de neurotransmissores (norepinefrina, dopamina e serotonina) que possam vazar das vesículas sinápticas quando o neurônio está em repouso. Ou seja, a inibição da MAO impede que os neurotransmissores importantes para as sensações de prazer sejam inibidos.
Representantes: fenelzina, tranilcipromina, isocarboxazida e selegilina (também usada no tratamento de Parkinson).
Uso racional de antidepressivos e papel do farmacêutico
Como vimos, a depressão e outros transtornos mentais podem ser tratados com o uso de diferentes medicamentos, resultando em um maior risco de interações medicamentosas.
Diante disso, o farmacêutico tem muito a contribuir, explicando a necessidade e os benefícios do tratamento medicamentoso ao paciente (uma vez que este possibilita a melhora no seu quadro clínico), e esclarecendo que há o risco de efeitos adversos, principalmente no início do tratamento.
Um fato importante sobre o uso de antidepressivos é que a maioria deles demora em torno de 4 a 5 semanas para o início do efeito, levando pacientes a abandonarem o tratamento. Por isso, o farmacêutico deve orientar o paciente e pessoas próximas a ele sobre as dificuldades do tratamento e trabalhar pela adesão do paciente. Do mesmo modo, o farmacêutico deve orientar o paciente de que, quando houver melhora no quadro clínico, o tratamento não deve ser interrompido antes do prazo estipulado pelo psiquiatra.
Além disso, medidas não farmacológicas como alimentação saudável, a prática de exercícios físicos e psicoterapia ajudam muito no tratamento.
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Referências:
- Brunton, L.L. Goodman & Gilman: As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 12. ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2018.
- Katzung, B.G. Farmacologia Básica e Clínica. 10. ed. Rio de Janeiro: Artmed/Mc- Graw-Hill, 2017.
- WHALEN, K. Farmacologia Ilustrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.7.